sábado, 10 de março de 2012

Rocambole: um século de delícias

A tradição do rocambole em Lagoa Dourada, na região dos Campos das Vertentes, teve início com o descendente libanês senhor Miguel Youssef e sua esposa, a lagoense Dolores de Mello, há aproximadamente um século. Segundo Marise Coimbra, proprietária do Legítimo Rocambole, o ponto do senhor Youssef era uma parada de ônibus e servia como apoio para os viajantes. “Antigamente havia apenas aquela parada. Os ônibus que saíam de São João del-Rei e iam para Belo Horizonte sempre paravam aqui”. Entre outros quitutes que eram vendidos no botequim, o rocambole era o mais apreciado.
A proprietária do Famoso Rocambole, Mirtes Patrícia do Líbano, afirma que o doce só ficou mesmo famoso quando seu pai, Paulo Miguel, assumiu o comando do estabelecimento de Miguel Youssef e passou a vender os rocamboles em caixas que permitiam que os viajantes apreciassem o doce no decorrer da viagem.
Em 1975, com o falecimento do senhor Miguel Youssef, a família se viu num momento delicado: Dona Dolores perdeu o tradicional ponto de vendas e quase desistiu do negócio. A nova casa do rocambole da família Youssef não tinha tradição e seu antigo estabelecimento continuou a vender os quitutes. “A fama era daquele ponto, mas o rocambole da outra loja (onde funcionou o primeiro ponto) não era o ‘verdadeiro’. Até todo mundo nos conhecer de novo foram anos de muita luta”, recorda Mirtes.
Ricardo Youssef do Líbano, neto do patriarca do rocambole e irmão de Mirtes, tomou a frente dos negócios da família, mantendo a tradição. Entretanto, em 1996, Ricardo faleceu. Mirtes relembra a difícil fase vivida pela família e se alegra com a vitória. “Minha mãe morreu, minhas irmãs foram embora e fiquei só. Nossa casa foi à venda. Comprei a parte das minhas irmãs e, quando vi, já estava no rocambole outra vez. É coisa que está no sangue mesmo. Estou aqui para resgatar a memória da minha família”, conta.
Hoje, Mirtes e Marise convivem lado a lado com suas lanchonetes. E a concorrência é considerada importante para todos que vivem de manter a tradição da cidade para os turistas. “Se fosse somente uma loja, a gente não daria conta. Época de festas, como o carnaval, a cidade fica cheia e, graças a Deus, tem cliente para todo mundo”, afirma Mirtes. Marise acredita que a concorrência é benéfica e quem ganha é o cliente. “A concorrência é boa, porque queremos sempre melhorar”, afirma.

Patrimônio da Cidade
Há três anos a Prefeitura tenta alavancar ainda mais a fama do rocambole para além dos confins da região. Em 2009 foi criada a Festa do Rocambole, iniciativa da Prefeitura para incentivar a produção e dar visibilidade ao doce. Até 2011, a festa não tinha data fixa e nem a adesão total dos fabricantes de rocambole da cidade. Até então, a festa aconteceu junto à festa de Peão de Lagoa Dourada.
Marise acredita que a festa é interessante para dar destaque ao rocambole e, mesmo não tendo data definida, é a favor da realização da festa, considerando ser uma boa oportunidade para consolidar a tradição da região. Mirtes, por outro lado, não concorda que o Festival aconteça simultaneamente à outra festa já tradicional na região. Ela defende uma festividade exclusiva para o rocambole.
De acordo com o secretário Municipal de Cultura, Josias Cardoso Santos, a Festa do Rocambole este ano será realizada entre os dias 8 e 10 de junho, próximo às festividades do aniversário da cidade. “Esse ano vamos fazer uma bela festa, com muitas barracas, música e artesanato. Queremos não só mostrar que a produção do rocambole é forte, mas também que a cidade pode oferecer muito mais”, afirma o secretário.
Além disso, Cardoso afirma que a fama do rocambole é muito importante para a cidade e que “o interesse é fortalecer os produtores da cidade, criando toda a infraestrutura necessária para que o produtor e o turismo se desenvolvam”, finaliza.

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